Passos por vir

Arte: Beija-me e cala-me
por Carlos Saramago

Passos por vir


Um dia voei 
Até ao Céu que me roubaste
Para encontrar os passos que percorremos.

Um dia beijei
Os lábios que me mentiram
Para esquecer o frio da prisão onde me esconderam.

Um dia fugirei
Atravessarei a porta 
Que tenta cerrar-me os lábios e calar-me o sentir.

E nesses dias,
Passados ou futuros,
Só as respostas me faltam, às perguntas que não fiz.

Dulce Morais

Relief

Arte: Carlos Saramago

Relief

When days are too long
And the sun enlightens the silence kept within,
the make-up is unavoidable;
it hides the lost look and the poor smile,
trying to convince itself
that life is still there.

When the bed is too large
for loneliness to fit in,
and the color of the clouds doesn't matter anymore,
the blush on the cheeks
makes up the appearance of the face
that cannot smile anymore.

And when, finally,
the tear accepts to fall,
washing away all the artifices,
there is no hiding place
where to slither and breathe.
Suffocating, a lonely soul finally dies,
delivered from the awful pain.


Dulce Morais

Consciente

Arte: Time Flies
by Carlos Saramago

Consciente
A última lágrima é chorada em silêncio.
O último suspiro é liberto na solidão.
A última palavra é pronunciada para ninguém.
O último sino toca no coração.
Não há forma elegante
De partir depois de ter vivido.
Há apenas o abandono
Da vida e do caminho percorrido.
As mãos vazias ainda procuram
O aconchego que não virá.
No arco-íris que se avista
Sabe-se que o amanhã não se viverá.
O deserto que fica no peito,
Pelo sopro das tempestades e das areias
Devastado, sem medida nem piedade,
Perde o sangue que lhe percorre as veias.
Do calor que alimentava o ser
Resta a condensação informe.
O frio avassalador percorre o corpo.
É para sempre que agora dorme.
Dulce Morais

Os amantes

Arte: Carlos Saramago
Os amantes

Livres foram
e livres aceitaram
o olhar dos que não o eram.

Felizes foram,
e talvez o sejam
para os tempos infindos.

Enfrentam o desprezo 
dos que não sabem.
Acolhem o preconceito
como quem se resigna ao inevitável.

É o amor que os une
com laços indefectíveis.
É a certeza que os constrói
sobre a rocha eterna da sinceridade.


Dulce Morais

Fera

Arte: Catarina, Carlos Saramago


Olho-me
Estou ali mesmo
 - À minha frente -
Não entendo os meus olhos
Ou não me guiam bem
Sou reflexo
Desse outro olhar
Que me procura
Que me fixa
 - No que não sei se sou –
Fera, selvagem, primitiva
Livre.
 - Chama-me –
Espelho? Pode ser mera Ilusão.
Não importa.
- Vou –

Queria ouvir a tua voz

Queria ouvir a tua voz
na doçura do teu encanto
deixar que os sons diferentes
mergulhassem fundo em mim 
sentir teu rosto 
os olhos límpidos abrir,
em cascata de luz o teu rosto
queria preender os teus cabelos
nos meus dedos
acariciar a tua face
segurar te as mãos
bem fundo 
e dar te amor.
mergulhar me no teu profundo
no teu corpo ,seguro e depois
deixar descansar os nossos corpos 
e sonhar 
a beleza do amor 



Titulo: hungry crows de Carlos Saramago

Underworld

Arte: João Marques (JPM Artes)
.
Took a peek
Inside myself
At first sight
Nothing I knew
Ventured to go further
Still
Nothing I’ve ever seen
Where does it all
Cames from?
How can it be me
In the eye of a storm?
Shall I risk
To travel deeper?
How many layers
Of me are there?
If I dare
Will I be able to came back
From behind the mirror?

Isa Lisboa

Conversa

Arte: Carlos Saramago
Conversa

Toca o paladar.
Sente a pétala voar.
Recebe o sopro do vento.
Oferece o olhar atento.

Diz que o sentimento,
Que preenche cada momento,
Invade o corpo e a mente
E se saboreia… calmamente

E o lápis desenha
Arte pura, arte estranha,
Aquela que se não descreve
Mas se vive num instante breve.

Que és, loucura? 
Sou tu na verdade mais pura.
Que me dizes, verdade?
Digo-te o peso da saudade.

Dulce Morais

Preâmbulo

Arte: Carlos Saramago


Preâmbulo
Sobre a mesa dispuseram-se todos os utensílios necessários. São pincéis de todas as qualidades e matérias, cores de todas as origens, paletas já usadas, como caleidoscópios frágeis onde se aplica a matéria de forma incoerente para construir uma visão involuntária em pigmentos caóticos. Também há, pousados lado a lado, os produtos dissolventes dos quais emana o incomparável cheiro que inebria a mente, como se fosse das tonturas assim provocadas que nascessem as formas esculpidas na alma que permite o que outros chamam arte.
Sobre outra mesa, frente à primeira, um único objecto pousado. Ao contrário do habitual, a verticalidade foi esquecida, para lhe ser preferida a horizontalidade da tela. Como as crianças que pousam sobre a mesa de uma sala de aulas a folha branca antes de desenhar sonhos pueris com lápis de cor, a tela foi aqui disposta horizontalmente para permitir ao homem desenhar sonhos diferentes, nascidos numa alma despedaçada por visões estranhas acumuladas ao longo de uma vida desperdiçada no inútil.
Ao centro, entre as duas mesas, o rosto crispado pela concentração, os olhos perdidos em devaneios, as mãos ainda inertes, o artista observa sem ver. Descalço, deixa o frio do cimento que constitui o piso daquele lugar invadir a planta dos pés até ter a sensação de congelar por dentro. Só o acto de espalhar as cores na tela poderá aquecer um pouco as entranhas petrificadas. Mas, antes de chegar a esse ponto, será necessário vencer a luta que se trava no peito. Após tantos anos daquela prática a que tantos pretendem e que tão poucos conseguem, o homem sabe que só o resultado da batalha interna, seja ele uma vitória triunfante ou uma derrota amarga, permite libertar as mãos que serão, em seguida, capazes de aplicar, de forma aparentemente incoerente, as cores na tela que aguarda.
Em silêncio, o artista parece conversar com a matéria ali disposta. Faz parte da luta e há muito que o devaneio insano que ameaça em permanência virar loucura pura, foi aceite. Se existe risco de afundar-se na irrealidade, nunca o calculou e não deseja sequer considerá-lo.
Nele, nasceu aquela sensação terrível que acelera o ritmo cardíaco, faz tremer os membros e embacia a visão. Já o tinha sentido nascer desde que ali entrou, e agora pode aceitá-lo: o medo! O que o motiva é inconcebível, inexplicável. E ninguém pede explicações. Por desagradável que seja, é essa sensação que desperta algures nos meandros do cérebro a produção da adrenalina que se espalha rapidamente pelas veias.
As mãos começam a tremer. É incontrolável mas o homem aprendeu há muito a não tentar controlar. Por fim, pega no material que o seu instinto escolhe e dirigindo-se à tela, numa voz que não é a sua, diz:
- Permite-me derramar sobre ti uma parte de mim!
Dulce Morais

Ghosts

Arte: ĹÁŤĔŃČŶ ÁŤ ĞÁMĔ, Carlos Saramago

Let go of the past
Old ghosts will never
Fill your soul.
Don’t believe them
When they whisper promises;
They will feed on what’s left
And when all is hallow
They will take you
For their home
You won’t even notice
Your heart going cold
Then one day
It will stop
And you will become a ghost
Too…




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ARREBENTA-A-BOLHA” É UM BLOG CRIADO COM O OBJECTIVO DE PROMOVER E DIVULGAR VÁRIOS ARTISTAS NACIONAIS NO CAMPO DA PINTURA, ESCULTURA , LITERATURA E OUTRAS ARTES ENVOLVENTES . PRETENDEMOS CRIAR UM CÍRCULO DE ARTISTAS PARA FUTUROS EVENTOS PROMOVENDO ASSIM A PARTILHA ARTÍSTICA E FILOSÓFICA DE CADA UM, VISTO A ARTE SER INFLUENCIADA POR TUDO O QUE TEMOS À NOSSA VOLTA, CONHECIMENTOS ADQUIRIDOS DE FORMA ACADÉMICA E EMPÍRICA NA ESCOLA DA VIDA. O NOME “ARREBENTA-A-BOLHA” SURGIU DO JOGO INFANTIL “JOGAR ÀS ESCONDIDAS” E PARA NÓS SIGNIFICA A QUEBRA DE REGRAS ESTÍLÍSTICAS SOBRE AS QUAIS O ARTISTA CRIA LIVREMENTE DESENVOLVENDO ASSIM O SEU PRÓPRIO ESTILO E VISÃO ARTÍSTICA. TODOS OS ARTISTAS PARTICIPANTES FORAM SELECIONADOS POR SEU PRÓPRIO ESTILO ARTÍSTICO DE PERSONALIDADE ÚNICA. POR ISSO MANIFESTEM-SE, ESTE SERÁ O NOSSO BLOG (ACOMPANHADO TAMBÉM DE UMA PÁGINA DE FACEBOOK DENOMINADA PELO O MESMO NOME). NÃO POSSUÍMOS QUALQUER INTERESSE LUCRATIVO NA CRIAÇÃO DO BLOG E FUTUROS EVENTOS. TODAS AS OBRAS SERÃO POSTADAS E DIVULGADAS LIVRES DE QUALQUER PAGAMENTO E EM CASO DE FUTUROS EVENTOS TENTAREMOS CRIÁ-LOS DE FORMA MAIS ECONÓMICA QUE POSSÍVEL TENTANDO FAZER CONTRASTE COM O NEGÓCIO BURGUÊS DOS DIAS CURRENTES. ASSIM ME DESPEÇO... ARREBENTA-A-BOLHA!

Entrevista semi-surreal

João Marques- Sendo eu um gajo que te conhece e o facto de eu ser minimamente inteligente para não te fazer questões de merda, como te defines como artista?
Carlos  Saramago- Sou artista da vida ,que se diverte com uns pinceis e tintas ,como artista ,sou medio criador do meu estilo.
João Marques- Porquê a expressão "médio criador do meu estilo?"
Carlos Saramago- Porque a minha insegurança leva me a criar um estilo pintura onde me sinto confortável ... meu estilo é ainda muito medio ,jamais será grande ,sou realista. Realista do surreal!
João Marques- Explica-me então essa realidade do surreal...
 Carlos Saramago- Surreal é algo que muitos não gostam ,porque representa a tua realidade distorcida, uma verdade que é ainda considerada Fantástica..mas tenho para mim que eu vivo na realidade ,este e o meu ambiente de sonho e eu sonho acordado.
João Marques- Que consideras real e surreal? Ou Irreal?
Carlos Saramago- Realidade é a tua realidade de espirito ...eu entro no surreal quando me divirto ou estou menos bem ,dependendo da situação...Irreal é esta mistura de estado espirito ,caso que arrisco que pinto um estilo Irreal. (Isto e entrevista ou estamos no bla blablá? Ahhaahah é que e estou a desbobinar teorias da conspiração do surreal :P)
João Marques- qual a tua maior influência na pintura?
Carlos Saramago- Dali e José F Pereira , Júlio Pomar ...dependendo dos anos ou fases que passei ,a minha relação com os mestre foi sempre de observação e curiosidade
João Marques- E artistas actuais que admiras?
Carlos Saramago- Hahaaha actualmente gosto do Luiz morgadinho , Júlio pomar pouco mais ,ando numa de aprender a gostar do Saramago.  Falo dentro do meu estilo.
João Marques- E fora do teu estilo?
Carlos Saramago- Peter H zopf ,megia ,Otto ,sao muitos
João Marques-que ambicionas?
Carlos Saramago- Sério ?! Ambiciono o dia de pintar um quadro que o sinta terminado e quase perfeito ...esse seria um marco grande no meu percurso.
João Marques- Que achas que é necessário para isso?
Carlos Saramago- Sinceramente muita pratica... e apanhar o dia certo e a hora certa ,tudo depende do momento ,quando produzimos todos dias ,algo bom pode acontecer
João Marques- Que te inspira mais?
Carlos Saramago- Meu estado de espírito ,a vida ,tudo o que nos rodeia é inspiração ,temos que saber e digerir bem isto tudo e tirar partido do que nos é oferecido,pelo bem e no mal...
João Marques- …Incluindo o estado actual da sociedade, crise e Portugal?
Carlos Saramago- Sim , porque não , se soubermos aproveitar isso também...,de certeza que neste momento muitos artistas se inspiram sobre o tema ,muita gente aproveita grandes negócios por causa da crise...
João Marques- Há sempre matéria e voz para exprimirmos na arte…
João Marques- Quais os teus futuros projectos?
Carlos Saramago- Vivo presente, acredito no amanha ,parar é um erro ,esta nossa passagem e única, e não temos culpa de termos só um bilhete de ida.
João Marques- ou seja, parar é morrer
Carlos Saramago- Morrer ..não ! Parar é Acabar
João Marques- E acabar não será morrer?
Carlos Saramago- Acabar é terminar , the end.
(sorrisos)
João Marques- Uma ideia da tua realidade surreal portanto
Carlos Saramago- (risos) que é para ti morrer ?
João Marques- Poder ter o meu corpo a ser oferecido de comer aos peixinhos...
Carlos Saramago- Haaaa…então é isso mesmo ... Terminar ,acabar
João Marques- pois na natureza nada se desperdiça, tudo se transforma.
João Marques- Agora...uma pergunta mais peculiar... o que são para ti boas questões numa entrevista feita a ti?
Carlos Saramago- Perguntar o que acho da pintura em geral actual, que acho do Original e criativo ,em geral ,uma pergunta que possa englobar essa tua pergunta :P .
João Marques- Concordas que o estado da pintura em geral esteja num cliché onde a originalidade e criatividade estejam boas para dar de comer aos peixinhos?
Carlos Saramago- Achas? Comida boa para peixinhos é o realismo e arte decorativa, tudo misturados parece vitaminas!
João Marques- …Suplementos para a estética....
João Marques- Se pudesses mudar algo no mundo da arte, que mudarias?
Carlos Saramago- Seria um feiticeiro das artes, só para chatear os ditos curadores (alguns) ...acho que primeiro temos ensinar a nossa juventude o gosto pela artes, levar los aos museus ,galerias ,arte tem que ser vista como negocio de investimento ,hoje em dia isto anda tudo para trás ,a juventude vê filmes pela internet e vê arte pela internet ,não consigo imaginar um futuro ...
João Marques-  E porque não te tornares isso mesmo, um feiticeiro das artes, seria interessante e divertido para ti não?
Carlos Saramago- Poderia …mas não era mesma coisa, gosto de ser um curioso ,rindo da maluqueira dos outros ,que se acham espertos :P. Eu também não sou esperto , se fosse era rico:P
João Marques- Essa sinceridade....
João Marques- Consideras-te mais um pintor e criativo que um negociador de arte
João Marques- Agora, para terminar...
João Marques- Que conselho darias aos artistas mais jovens?
Carlos  Saramago- Sou um curioso. Pintem até se fartarem, arte não é para todos ,mas sim para quem quer.
João Marques- para quem quer ou para quem pode?
Carlos saramago- Pode
Carlos Saramago- Epá agora fiquei baralhado (risos)
João Marques- pois, reparei nisso....P
João Marques- Será para quem pode pois é preciso querer para poder?
Carlos Saramago- É preciso sentir a arte, o resto vem depois
João Marques- Consideras importante os estudos escolares na arte? Falando de escolas artísticas e ensino superior?
Carlos Saramago- Sim ,acredito que é meio caminho andado, não perdes muito tempo a experimentar e aprender sozinho.
João Marques- Consideras que é preferível seguir o ensino das belas artes ou seguir a alternativa autodidacta?
Carlos Saramago- Depende da situação. Existem autodidatas que atingem mais depressa um estilo único… Muitas vezes quem vem da escola vem com estilo estudado.
João Marques- Ou seja, é uma questão de preferências pessoais
Carlos Saramago- Ya
João Marques- Alguma vez pensaste mudar de estilo?
Carlos Saramago- Todos os dias
João Marques- E achas que o fazes?
João Marques- Não, isto nasce connosco, por mais voltas que dou venho parar ao mesmo sitio. Posso é voltar melhorado.
João Marques- Entendo-te bem...
João Marques- Concordas com a ordem e rumo desta entrevista, por assim dizer?

Joao Marques